quarta-feira, 1 de junho de 2016

I Colóquio Emoções: intersecções em filosofia moral e política

Colóquio Emoções: intersecções em filosofia moral e política

25 e 26 de agosto de 2016

Auditório do CFH, UFSC, Campus Trindade




O Colóquio Emoções: intersecções em filosofia moral e política é um evento dedicado ao estudo das emoções e seu papel dentro dos debates atuais em filosofia moral e política. As emoções pontuam/acentuam quase todos os eventos significativos em nossas vidas, mas sua natureza, causas e consequências estão entre os aspectos menos e compreendidos da experiência humana. Nas últimas décadas, tem surgido m interesse significativamente maior no estudo das emoções por especialistas de vários campos. Tal interesse interdisciplinar e interação são cruciais para a compreensão das emoções. No entanto, acreditamos que há espaço para discussões mais intensas entre os estudiosos sobre questões especificamente filosóficas dentro da grande área do estudo das emoções. 

Organizado conjuntamente pelo Núcleo de Ética e Filosofia Política (NÉFIPO), Programa de Pós-Graduação em Filosofia (PPGFIL/UFSC), Grupo de Pesquisa Contratualismo Moral e Político (CNPq/UFRJ) e PNPD/CAPES, o evento tem como objetivo principal promover o estudo filosófico de emoções, proporcionando um fórum para troca de pontos de vista, de modo a aumentar a interação e colaboração entre seus membros. 

O I Colóquio Emoções: intersecções em filosofia moral e política presente inaugurar um prolífico debate sobre as emoções, bem como aproximar as principais pesquisas sobre o tema no Brasil.

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Programação

25 de agosto de 2016

14:00 – 15:30 – Conferência de abertura

O cenário atual das teorias das emoções. - Caroline Marim (PNPD/UFSC)
Emoções e Motivação - Maria Borges (UFSC)
Ética e Neurociência - Darlei Dall’Agnol (UFSC)

15:45 – 18:30 – Mesas de comunicações

19:30- 21:30 - Mesa redonda - Emoções e Ética
Mediadora: Caroline Marim (PNPD/UFSC)

· Uma perspectiva fenomenológica para as emoções morais ainda é viável? - Fabricio Pontin (PUC-RS) 

· Investigação sobre as bases naturais do comportamento – Matheus de Mesquita Silveira – (UCS- RS)

· Gosto Moral? - Adriano Naves de Brito – UNISINOS

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26 de agosto de 2016 

14:00 – 18:00 - Mesas de comunicações

19:00 – 21:00 - Mesa redonda - Emoções e Filosofia Política
Mediador: Alessandro Pinzani (UFSC)

· Política dos afetos: ambivalências do papel das emoções para uma teoria das instituições - Filipe Campello (UFPE)

· Humanidade desfigurada: cooperação e conflito no liberalismo político - Marcos Fanton (UFPE)

· Emoções e processos políticos decisórios - Walter Valdevino (UFRRJ)

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Realização:

Núcleo de Ética e Filosofia Política (NÉFIPO) - http://www.nefipo.ufsc.br

Programa de Pós Graduação em Filosofia (PPGFIL/UFSC) - http://ppgfil.posgrad.ufsc.br

Grupo de Pesquisa Contratualismo Moral e Político (CNPq/UFRRJ) - http://r1.ufrrj.br/contratualismo PNPD/CAPES 

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Comunicações

25 de agosto de 2016 

15:45 - 16:50 

Mesa I | Auditório CFH | Mediador Fabricio Pontin 

Fellini de Souza (Mestranda UFSC) - As paixões e a moral na obra “As Paixões da Alma” de René Descartes

Diana Piroli (Mestranda UFSC) - Uma análise sobre a emoção da vergonha a partir de Martha Nussbaum

Evandro Oliveira de Brito (Prof. Dr. UNICENTRO) – Intencionalidade, sentimento e cognição moral em Franz Brentano

Mesa II | Sala 333 CFH | Mediadora Maria Borges 

Charles Feldhaus (Prof. Dr. UEL)- Kant, Schiller e a ética de virtudes contemporânea

Berta Rieg Scherzer (Prof.ª Dr.ª Substituta Filosofia UFSC) - A felicidade e moralidade em Kant

17:00 - 18:30 

Mesa III | Auditório CFH | Mediadora Tatiana V. Maia 

Laura D. Guerim (Doutoranda - Pós-Graduação em Medicina e Ciências da Saúde, PUCRS), Camila P. Barbosa (Mestranda Filosofia PUCRS), Nathália V. Bennemann, Taline Frantz (Escola de Humanidades PUCRS) e Bruna Fernandes Ternus (Escola de Humanidades PUCRS) - Identidade sexual e orientação política: uma crítica a abordagens redutivistas de comportamento sexual e gênero

Mesa IV | Sala 333 CFH | Mediador Evandro de Brito 

Noa Cykman (Mestrando em Sociologia e Ciência Política, UFSC) - Velhos paradigmas e novos parâmetros: reflexões descartenizadas sobre o afeto como relação pedagógica

Henrique Franco Morita (Mestrado do PPGFil-UFSC) - O conceito de mal em Kant é suficiente?

26 de agosto de 2016 

14:00 - 15:30 

Mesa V | Auditório CFH | Mediadora Caroline Marim 

Marcelo de Sant’Anna Alves Primo (Prof. Dr., bolsista PNPD/UFS) - As paixões e a origem da ideia de divindade no Système de la nature de Holbach 

Ana Leticia Adami (Doutoranda Filosofia- FFLCH-USP) - Por Helena de Tróia se pondera com o coração: a filosofia moral de Lorenzo Valla

Mesa VI | Sala 323 CFH | Mediador Marcos Fanton 

Aroldo Mira Pereira (Bacharel Filosofia UFBA- As paixões e a racionalidade retórica em Aristóteles 

Juliana Santana (Mestranda UFSC) - Emoção, razão e virtude em Aristóteles

15:40 - 17:00 

Mesa VII | Auditório CFH | Mediador Matheus Silveira 

Dario Galvão (Mestrando em Filosofia-USP/FAPESP) - O princípio da simpatia na origem das paixões em David Hume

Raquel Xavier (Mestranda PPGF-UFSC) - O papel da inveja na justificação da teoria da justiça como equidade

Mesa VIII | Sala 323 CFH | Mediador Walter Valdevino 

Marcelo Alves (Doutorando PPGFIL-UFSC-UNIVALI) - A dimensão social das paixões em Hobbes e suas implicações na política do Leviatã

João Batista Farias Junior (Prof. Ms. Filosofia – IFPI) - Responsabilidade e temor: a posição dos sentimentos na teoria ética de Hans Jonas

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As emoções são um fenômeno sutil e altamente complexo, cuja explicação requer uma análise cuidadosa e sistemática de suas múltiplas características e componentes. Podemos caracterizar as emoções de diversos modos e, assim como na filosofia e na ciência, o senso comum também não nos apresenta um consenso diante da definição do que são as emoções, bem como quais são elas. Comumente aceitamos que o medo, a raiva e o ciúme sejam exemplos de emoções, mas questionamos se a solidão e as experiências estéticas podem ser chamadas de emoções. 

De início, podemos dizer que o uso que se faz das emoções, frequentemente, se refere a situações que não estão totalmente relacionadas de fato a estados emocionais. Por exemplo, a proposição “eu tenho medo de não conseguir um trabalho” não se refere propriamente ao medo, é apenas uma expressão coloquial. Há diferentes conotações e sentidos, em diferentes línguas, para definir as emoções. Muitas línguas fazem a distinção entre ciúme e inveja; no português, por exemplo, não existe uma palavra especial para dizer Schadenfreude (prazer com a desgraça dos outros).[1] 

Deste modo, um simples olhar sobre a diversidade linguística das emoções aponta para a dificuldade que encontramos ao tentar definir e compreender o fenômeno das emoções. Sem dúvida que, diante das questões filosóficas que a acompanham, a questão linguística pode ser facilmente solucionada, ou, pelo menos, esclarecida com uma explicação satisfatória sobre quais são seus componentes. As emoções têm sido tratadas recentemente como um fenômeno complexo distinguível em diferentes níveis: biológico, fisiológico, psicológico e filosófico. 

Podemos considerar atualmente que o nível fisiológico, por exemplo, consiste em neurotransmissores e atividades somáticas e autônomas do sistema nervoso, envolvendo mudanças que são primariamente associadas com a corrente de adrenalina, pressão sanguínea, circulação sanguínea, batidas do coração etc. 

No nível psicológico, uma emoção consiste em sentimentos, cognição, avaliação e motivação. Por exemplo, o medo é associado com o sentimento de temor, a avaliação da situação como perigosa e o desejo de evitar o perigo. Já o nível filosófico de descrição considera questões tais como emoções, a moralidade e a racionalidade das emoções.[2] A classe dos estados mentais aos quais normalmente se referem as ‘emoções’ tem figurado na investigação filosófica de vários modos. Primeiro, um modo de tratá-las nos convida a olhar como elas têm sido descritas em sua relação com a razão, ou mesmo com a própria racionalidade. 

Olhando desse ângulo, as investigações filosóficas têm ocorrido principalmente em virtude de sua influência em nossa habilidade de raciocínio e de ser racional. Foi assim que os estoicos asseguravam que a filosofia, considerada como um exercício de deliberação racional, teria o objetivo de superar os efeitos prejudiciais das emoções. 

Ainda no século XVII, a questão das emoções se depara com o terreno da fisiologia a favor das teorias mecanicistas. Em 1649, Descartes define as paixões como “percepções, sentimentos, paixões da alma, que estão particularmente relacionadas a ela, e que são causas, que fortalecem qualquer movimento do espírito.”[3] A glândula pineal organiza a comunicação entre a mente e o corpo, excitando nos sujeitos as paixões. Há uma mecânica corporal da emoção que é constituída pelo movimento do corpo, isto é, da paixão dentro da mente. 

Em contraposição à concepção estoicista, David Hume, no século XVIII, tentou resgatar o valor ético das emoções, propondo que as emoções são poderosas para motivar nosso comportamento moral, e nossas paixões ou sentimentos morais são capazes de nos motivar sozinhos em direção às ações. Apesar das diferenças entre essas abordagens, é importante notar o foco no poder que as emoções podem ter no processo do pensamento racional e vice-versa e como elas estão atreladas ao funcionamento do corpo e da mente, diferenciando-se apenas o modo como essa relação é compreendida em cada teoria. Em outras palavras, podemos dizer que a investigação filosófica da relação entre as emoções e a racionalidade tem sido o centro desse debate nos últimos anos. 

Desta forma, um modo mais frutífero de pensar as emoções e a racionalidade tem sido colocar a questão “o que são as emoções?” em vez de continuarmos procurando a importância de um relato sobre o outro, isto é, razão ou emoção. De fato, nas últimas três décadas, o debate sobre as emoções tem sido em torno do componente cognitivo como base das emoções unido a um certo ceticismo em relação à ideia de que a razão sozinha é a fonte do conhecimento e do entendimento e de que as emoções simplesmente motivam. Outro aspecto das recentes abordagens tem sido o retorno a Aristóteles, pois em sua teoria não encontramos uma divisão tão radical entre emoções e racionalidade como em outras. Entretanto, mesmo em teorias que não são aristotélicas, a busca não é meramente por uma teoria visionária da relação entre as emoções e a razão como inerentemente não hostis, mas a ênfase na possibilidade de combinar aspectos cognitivos e afetivos como componentes das emoções. 

Muitos filósofos têm abraçado a visão de que as emoções são essencialmente juízos avaliativos ou crenças com apenas uma conexão acidental dos sentimentos e impulsos que nós consideramos intuitivamente como ‘emocionais’. Nesses casos, a ‘cognição’ não precisa ser entendida apenas como um componente que envolve a mais formalizada noção de crença e juízo e, de fato, aqueles que têm dado uma explicação puramente cognitiva das emoções têm analisado tal fenômeno em termos de pensamentos e apreensões, e essas explicações têm sido mais promissoras do que a sugestão de que as emoções são apenas um tipo de juízo. Alguns filósofos têm reivindicado que pelo menos algumas emoções são constituídas por certos pensamentos ou pensamentos complexos e, assim, emoções como ciúme, por exemplo, seriam definidas apenas em termos de nossos pensamentos sobre nossas inadequações e nossa força ou fraqueza em relação a um rival. 

[1] Ben-Ze’ev, Aaron. The Subtlety of Emotions. A Bradford Book. The MIT Press. Cambridge, Massachusetts. London, England, 2000, p. 6. 

[2] Antes de tratar sobre como as emoções afetam a agência moral e qual a importância moral delas, ou seja, as questões filosóficas propriamente ditas, é fundamental entender o que é uma emoção e por isso começamos com a análise psicológica do fenômeno das emoções, mesmo porque essas perspectivas se complementam e se inter-relacionam nas emoções e na racionalidade. Essa descrição aparece em Ben, p. 48. 

[3] Descartes, R. Paixões da Alma, Apud MARZANO, M. Dictionaire du corps. Paris: Quadrige/PUF, 2007; p. 337.